Oi, disse ao lobo, estava de esquina para uma rua movimentada, estranhei de principio, pois imaginei que fosse um cão. A cada passo a frente este animal punha uma pata avançando, e tinha um olhar carismático e o observava de uma forma concentrada, não achava isso taciturno, pois estava acostumado às mais estranhezas noturnas, pensava que fosse efeitos de uma noite distante, e agora devia estar num aspecto de afogo delirante; enxergando um lobo no meio da cidade numa madrugada.
O animal, de uma pelagem escura como noite e olhos mel como a lua, representava uma imagem enigmática noturna de como ela poderia ser, ele se mantinha calmo e preservava uma distancia e me seguia à sombra da lua, não fazia barulho e muito menos movimentos bruscos. Resolvi continuar a caminhar, percebi que sua imagem não era muito nítida, tinha uma sensibilidade incrível à claridade, desaparecia sem nenhum chamego, e as escuras se transpunha seus lóbulos oculares alaranjados.
Pensei em ignorar tudo aquilo e continuar a caminhar, em nenhum momento mostrou em ser importuno, confesso que gostaria de ter visto seus caninos, seu sorriso, pois parecia tão concentrado e prudente, talvez fosse amigável e terno, ou quem sabe procurava apenas seu caminho.
E assim, subitamente desapareceu, e continuei meu itinerário, subi as escadas e já estava em meu aconchegante apartamento, depois dessa dispendiosa e maluca noite. E tive uma surpresa quando apaguei as luzes, vi o seu entorno mais uma vez, os seus olhos não eram mais da mesma cor, tinham-se esbranquiçados por completo, e através deles pude ver meu reflexo e as pequenas lembranças que traziam consigo, senti um imenso júbilo e o lobo, de estático, começou a balançar sua cauda, e nessa pequena distância aparentou-se que nós nos entendemos por completo, e nessa transparência me situei numa afasia prolongada.
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