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Por favor, não pergunte meu nome





O ar caminhava sob as narinas lentamente, assim fazia seu percurso de uma forma mais vagarosa, dirigindo-se pela cavidade bucal e desembocando sobre seus alvéolos pulmonares, numa dança ritmada e mais terna que davam o seu espírito um estado ébrio de um sono longínquo.

A realidade já se misturava em figuras místicas, não sabia de onde vinha e o que ocorria... apenas sabia que vivia aquele momento ilusório, o seu sonho. Nas primeiras horas o seu torpor era conduzindo para o Caos, que era um estado primordial do mundo primitivo ou quem sabe o seu subconsciente que começava se apoderar de uma pequena aquarela, que sob uma vaga forma, indefinível, indescritível criava um belo cenário ou ecos que se confundiam os princípios de todos os seres particulares.

Sentiu uma forte presença solar sobre seu pálido rosto. Seus olhos que se machucaram ao se abrirem notaram que se encontravam no limiar de uma falésia, a adiante um grande tom azulado que se confundia o céu e o mar num ponto ínfimo do horizonte. Deitou-se com medo da altura perante a ele, e viu alguém ao seu lado.

Passaram-se alguns minutos de silêncio. Os quatro olhos apenas mareavam o mar e sentiam o seu barulho e a figura orquestrada, que se assemelhava ao pequeno toque de leveza que o ar fazia em seus pulmões enquanto dormia. E percebeu que seus cabelos se despenteavam com o vento, sabia por que podia enxergá-los esvoaçando perante os seus olhos. De certo modo estranhou, pois lembrava somente de seus cabelos curtos com a impossibilidade para tal. Olhou para si com um ar assombrado, se sentia um pouco diferente, contudo não sabia o que se diferia além dos seus longos cabelos. E assim escutou:

_A aqui tudo é possível, só depende de você.

_Quem é você?

_Quem se importa se eu diga quem eu sou, as coisas belas da vida não tem nome. O homem deu nome às costas, mares, oceanos, montanhas, mas vieram muito antes que eles. O nome é o detalhe que menos se importa, às vezes é esquecido e nomeado mais uma vez, a imagem sempre foi a mesma e é captada com os seus olhos sem nomeações e cerimônias. Somente nós, que vivemos estamos sempre nomeando e dizendo o que é belo e feio, contudo não nomeamos o por do sol, a brisa que passa sobre nossa pele, a relva sob os nossos pés e o azulado do mar, porque não? Porque temos receio das eternas beldades e assim não damos nomes devido a sua grandiosidade e também a sentimentos que nos tocam. Por favor, não pergunte meu nome, apenas lembre que estive presente em seus sonhos.

Comentários

Podesermelhor disse…
lindo e bom
e verdade.
Fechei os olhos e sorri,
de verdade.
maria caram disse…
tenho pensando tanto sobre rótulos e olhares, academicamente. É bom ler um texto mais leve falando sobre isso.
Hernán disse…
Contemplando as falésias que perpetuo Monet, sinto em seu poema uma veneração a Natureza.
Hernán

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